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Entrevista com Alberto Belentani

Alberto Belentani é formado em agronomia e administração de empresas. No início da sua carreira, trabalhou três anos e chegou a presidir uma cooperativa de agrônomos.

Tem uma experiência de 27 anos na consultoria de fazendas agropecuárias com sua empresa PROJETA. Na BEPRO Ambiental – nove anos - Consultoria, Assistência Técnica, Projetos, Gestão, Perícias, Laudos Periciais, Administração, Avaliações Periciais, Intermediações. Perito judicial. Sócio-gerente Ziegler do Brasil – 12 anos - Produção de luvas EUROFLEX para frigoríficos e Sócio-diretor BGB – Agricultura e Serviços – focando na armazenagem e padronização de grãos de soja, milho e feijão. 

Confira a entrevista exclusiva a Revista Perfil. 


Sua trajetória profissional distingue três etapas. Após duas décadas atendendo pecuaristas em SP e MS, ampliou sua oferta de serviços para outras regiões, focando na gestão de fazendas. Seguiu-se a criação de uma empresa que ajuda em projetos de sustentabilidade. Agora concentra tempo e energia na participação societária em projetos de armazenagem. Como avalia a perspectiva de crescimento de investimentos em diversos tipos de silos?
Vamos falar aqui especificamente do Brasil, que com dimensões continentais, desde o início da expansão agrícola, vem abrindo novas fronteiras agrícolas de forma continuada. Isso ocorre antes mesmo que a infraestrutura logística esteja consolidada. No caso da armazenagem, a situação ainda é mais complexa, pois demanda um elevado investimento, que normalmente só é realizado após a consolidação da exploração. Assim podemos esperar que a expansão da produção sempre andará à frente da armazenagem. O déficit será maior ou menor em função dos modais de escoamento de produção existentes em cada região.

Tem trabalhado em projetos de consultoria em SP e MS, de investimentos em Tocantins e recentemente também no Paraguai. Como atende a essas realidades (sistemas produtivos, dimensões de fazendas e características profissionais das equipes) nesses ambientes culturalmente bastante diversos?
É sempre um grande desafio compreender as diferenças culturais e procurar adequar-se a elas. Mas o que posso dizer é que os processos de produção, administração e gestão, independente de aspectos culturais, têm a mesma filosofia, isto é: 1º controlar gastos; 2º medir a produção e 3º qualificar as pessoas. Esse último ponto talvez seja o mais complexo de todos.

O primeiro passo em qualquer situação é que haja disposição por parte dos administradores e proprietários em implementar mudanças, que em geral tornam todos os processos mais fáceis. É claro que diversos outros fatores interferem nesses processos, mas se esses três principais não estiverem equacionados, é muito pouco provável que se consiga obter resultados satisfatórios.

Você gerencia três tipos de equipes: Os colaboradores em suas empresas de serviço, depois as mulheres que produzem luvas de metal nas máquinas semiautomatizadas, bem como as equipes nas fazendas de seus clientes. Como esses estilos de gestão se diferenciam?
Nesses três ambientes é preciso lidar desde profissionais graduados, até com as pessoas mais simples com nível primário de escolaridade. Tamanha amplitude demanda uma grande flexibilidade de abordagens, linguagem e principalmente uma habilidade psicológica para poder coordenar as ações em direção aos objetivos definidos. E preciso salientar que nestas empresas sempre dispomos de gerentes e encarregados que nos auxiliam nesses processos e talvez sejam o elo mais importante para viabilizar os projetos e manter as atividades no caminho certo.

O crescente uso de novas técnicas e aplicativos ajudam ou dificultam a gestão das pessoas no campo?
Eu sempre fui e sou um grande adepto da tecnologia, e acredito que ela sempre vai auxiliar a melhoria de tosos os processos de gestão e consequentemente produtivos. Porém, é preciso que as equipes estejam preparadas para operar essas tecnologias. Do contrário os resultados podem ser, muitas vezes, desastrosos. No campo em geral, hoje, o nível cultural dos colaboradores ainda é limitado e a prática tem nos ensinado que avanços neste sentido ainda levarão um bom tempo para se consolidar.

Ou seja, os desafios estarão presentes hoje e sempre. Pois a tecnologia é um processo dinâmico sempre em evolução, no entanto, neste caso, mais rápido do que conseguimos capacitar as pessoas.

Quais são os desafios e oportunidades na produção industrial e no campo de grãos e no pasto da pecuária?
Vou responder aqui com base na minha experiência. Ela vive me mostrando que o maior limitante para implementação de tecnologias, são as pessoas, principalmente pela falta de capacitação e muito também pelo que estas novas gerações vêm demonstrando como forma de comportamento, isto é, há pouco comprometimento e com isso a rotatividade de pessoas acaba sendo muito grande.

Por outro lado, a tecnificação industrial e no campo, seguem seu desenvolvimento a passos largos e isso é muito positivo, pois trará cada vez mais oportunidades e opções de melhorias não apenas dos processos, mas principalmente das pessoas.

O aumento de longevidade por um lado e a necessidade de constantemente inovar e modernizar a produção no campo geram conflitos entre as gerações. Qual é sua experiência com o debate estratégico na gestão das fazendas?
O que tenho notado ao longo do tempo é que esses conflitos sempre existiram e são mais evidentes no segmento pecuário. Pois via de regra, por ser uma atividade que proporciona menor risco. Os processos de gestão até mesmo a incorporação de tecnologia se dá de forma mais lenta e conservadora. Já no segmento agrícola, o ritmo de incorporação de tecnologia e gestão é muito mais dinâmico, quase que obrigando os produtos a se estruturar e delegar atividade, tornando o processo sucessório mais fácil ou mesmo compartilhável.

A sucessão familiar ainda é um processo que, na maioria das vezes, ocorre de maneira não voluntaria. Muitas vezes, essas situações não permitem conduzir este processo de maneira satisfatória. Assim é muito importante tratar esse tema com a devida importância e procurar fazer uma transição de forma planejada e “suave”, causando assim o menor impacto possível na atividade e principalmente não colocando o patrimônio em risco.

No caso dos seus três filhos, todos bem formados, podemos observar que não optaram por atividades na agricultura ou pecuária. Você sempre defendeu a visão de que o agro será o setor com maior potencial de crescimento e sua trajetória é o melhor exemplo disso. Por que acha que os jovens preferem a vida urbana?
Assim como eu tive a liberdade de decidir os caminhos que queria trilhar, procurei seguir a mesma linha com os filhos, proporcionando a eles o melhor embasamento possível, mas respeitando as escolhas que fizeram. É claro que seria muito bom ter alguém para seguir e auxiliar diretamente nos negócios. Mas por outro lado é muito bom também saber que eles estão se tornando independentes e eventualmente em algum momento no futuro possam até voltar para os negócios da família.

Continuo convicto de que o Agro sempre terá um enorme potencial de desenvolvimento, demandando cada vez mais pessoas capacitadas. Mas, é importante ter afinidade, e o que vemos na prática é que o acesso a informações e dados se tornou tão amplo que muitas pessoas deixaram o campo e foram para a cidade, seduzidos por expectativas que muitas vezes não se materializam, gerando muitas vezes frustração e em alguns casos promovendo o retorno às origens. O que quero dizer com isso é que a vida urbana, com tudo que ela oferece é, e será sempre, sedutora. Porém, a competitividade sempre será maior. No campo a situação é mais favorável, pois temos demanda continua por pessoas nos mais diferentes níveis de capacitação.

Os números do Agro falam por si só, representam uma fatia importante do PIB, que só não é maior por falta de políticas mais assertivas para o setor. Mas continuo convicto de, apesar de todos os problemas que o país enfrenta, o Agro Forte sempre manterá o Brasil Forte.

Enquanto o avanço da inteligência artificial ameaça muitas profissões nas indústrias e nos serviços, algo semelhante ocorrerá também na agricultura e na pecuária? 
Esse é um tema que é muito interessante e que eu diria, facilitará ainda mais a vida dos produtores e profissionais. Pois, cada vez mais será possível ter acesso à informações e soluções que podem auxiliar e melhorar de forma sistêmica todos os processos de produção e gestão.

Por mais abrangente que sejam os acessos que a IA pode proporcionar, a experiência prática, quanto a integração desses conhecimentos na indústria e no campo, sempre estará presente orientando de forma prática estas integrações, analisando possíveis correções de curso nos processos e principalmente interagindo com as pessoas que irão operar todo este conhecimento.

 

“O Agro sempre terá um enorme potencial de desenvolvimento, demandando cada vez mais pessoas capacitadas.”

“Agro Forte sempre manterá o Brasil Forte.”

 

Fotos: Divulgação


Perfil Agro
Por Francisco Vila 

 

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